Cruzada foi qualquer um dos movimentos militares de
inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa
(nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à cidade de Jerusalém
com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão.
Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a
Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos. No médio oriente, as
cruzadas foram chamadas de "invasões francas", já que os povos locais
viam estes movimentos armados como invasões e por que a maioria dos cruzados
vinha dos territórios do antigo Império Carolíngio e se autodenominavam
francos.
Os ricos e poderosos cavaleiros da Ordem de São João de
Jerusalém (Hospitalários) e dos Cavaleiros Templários foram criados durante as
Cruzadas. O termo é também usado, por extensão, para descrever, de forma
acrítica, qualquer guerra religiosa ou mesmo um movimento político ou moral.
O termo cruzada não era conhecido no tempo histórico em que
ocorreu. Na época eram usadas, entre outras, as expressões
"peregrinação" e "guerra santa". O termo Cruzada surgiu
porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, distinguidos pela
cruz aposta a suas roupas. As Cruzadas eram também uma peregrinação, uma forma
de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, e era
considerada uma penitência.
Por volta do ano 1000, aumentou muito a peregrinação de
cristãos para Jerusalém, pois corria a crença de que o fim dos tempos estava
próximo e, por isso, valeria a pena qualquer sacrifício para evitar o inferno.
Incidentalmente, as Cruzadas contribuíram muito para o comércio com o Oriente.
Antecedentes
Depois da morte de Maomé (632), vagas de exércitos árabes
lançaram-se com novo fervor à conquista dos seus antigos dominadores, os
bizantinos e os persas sassânidas, que vinham de décadas de guerra. Estes
últimos, depois de serem esmagadoramente derrotados em algumas batalhas,
levaram 30 anos para ser destruídos, devido mais à extensão do seu império do
que à sua resistência militar: o último Xá morreu em Cabul em 655. Os
bizantinos resistem bem menos: cederam uma parte da Síria, a Palestina, o Egito
e o norte de África, mas ao fim sobreviveram e mantiveram sua capital
Constantinopla.
Em novo impulso, os exércitos conquistadores muçulmanos
lançaram-se então sobre a Índia, a Península Ibérica, o sul de Itália, a
França, e as ilhas mediterrâneas. Tendo se tornado uma civilização tolerante e
brilhante sob o ponto de vista intelectual e artístico, o império muçulmano sofreu
de gigantismo e viu enfraquecer-se militar e politicamente. Aos poucos, as
zonas mais longínquas tornaram-se independentes ou então foram recuperadas
pelos seus inimigos, bizantinos, francos, reinos neo-godos, os quais guardavam
na memória a época de conquista.
No século X, essa desagregação acentuou-se, em parte devido
à influência de grupos de mercenários convertidos ao islão que tentaram criar
reinos separados. Os turcos seljúcidas (não confundir com os turcos otomanos
antepassados dos criadores do actual estado da Turquia), procuraram impedir
esse processo e conseguiram unificar uma parte do território. Acentuaram a
guerra contra os cristãos, esmagaram as forças bizantinas em Manziquerta em
1071 conquistando, assim, o leste e o centro da Anatólia e Jerusalém em 1078.
Depois de um período de expansão nos séculos X e XI o
Império Bizantino viu-se em sérias dificuldades: a braços com revoltas de
nómadas ao norte da fronteira, e perda dos territórios da península Itálica,
conquistados pelos normandos. Internamente, a expansão dos grandes domínios em
detrimento do pequeno campesinato resultou numa diminuição dos recursos
financeiros e humanos disponíveis ao estado. Como solução, o imperador Aleixo I
Comneno decidiu pedir auxílio militar ao Ocidente para fazer frente à ameaça
seljúcida.
O domínio dos turcos seljúcidas sobre a Palestina foi
percebido pelos cristãos do Ocidente como uma ameaça e uma forma de repressão
sobre os peregrinos e os cristãos do Oriente. Em 27 de janeiro de 1095, no
concílio de Clermont, o papa Urbano II exortou os nobres franceses a libertar a
Terra Santa e a colocar Jerusalém de novo sob soberania cristã3 , apresentando
a essa expedição militar como uma forma de penitência. A multidão presente
aceitou entusiasticamente o desafio e logo partiu em direcção ao Oriente,
sobrepondo uma cruz vermelha sobre suas roupas (daí terem recebido o nome de
"cruzados"). Assim começavam as cruzadas:
Nove cruzadas (segundo a tradição)
Rota das principais Cruzadas.
Tradicionalmente se fala em nove Cruzadas, mas, na
realidade, elas constituíram um movimento quase permanente.
Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096)
A Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096) foi um
acontecimento extra-oficial que consistiu em um movimento popular que bem
caracteriza o misticismo da época e começou antes da Primeira Cruzada oficial.
O monge Pedro, o Eremita, graças a suas pregações comoventes, conseguiu reunir
uma multidão. Entre os guerreiros, havia uma multidão de mulheres, velhos e
crianças.
Na busca de recursos financeiros para o longa viagem até a
Palestina, estes cruzados buscaram infiéis ricos mais próximos de suas casas.
Assim, começaram a atacar judeus europeus. As primeiras vítimas foram os judeus
da Renânia. Inspirado por Pedro o Eremita, o conde Emich de Leisengen marcou a
própria testa com queimadura em forma de cruz e liderou um grupo de peregrinos
para atacar os judeus da cidade de Spier. Apesar da oposição do bispo católico
da cidade, os peregrinos mataram muitos judeus que se recusaram a abraçar a fé
cristã. O mesmo bando seguiu depois até Worms, atacou a Judengasse e matou mais
de mil judeus. O grupo prosseguiu até Mogúncia, onde mais 990 judeus foram
mortos.
Ataques a judeus ocorreram também na Colônia, Trier, Metz,
Praga e Ratisbona e o sentimento antijudeu espalhou-se pela França e
Inglaterra.
Ante a impaciência da multidão, em Oedenburg (atual Sopron),
Pedro despachou seu comandante militar Walter o Impiedoso com cinco mil
cruzados. Ao chegar à cidade bizantina de Belgrado, os cruzados começaram a
pilhar a área rural e 150 deles morreram em confronto com a população local
Auxiliado por um cavaleiro, Guautério Sem-Haveres, os
peregrinos atravessaram a Alemanha, Hungria e Bulgária, causando desordens e
desacatos, sendo em parte aniquilados pelos búlgaros.
Em 1 de agosto de 1096, chegaram em péssimas condições a
Constantinopla. Mal equipada e mal alimentada, essa cruzada massacrou, pilhou e
destruiu. Ainda assim, o imperador bizantino Aleixo I Comneno recebeu os
seguidores do eremita em Constantinopla. Prudentemente, Aleixo aconselhou o
grupo a aguardar a chegada de tropas mais bem equipadas. Mas a turba começou a
saquear a cidade.
O imperador bizantino, desejando afastar esse "bando
turbulento" de sua capital, obrigou-os a se alojar fora de Constantinopla,
perto da fronteira muçulmana, e procurou incentivá-los a atacar os infiéis. Foi
um desastre, pois a Cruzada dos Mendigos chegou muito enfraquecida à Ásia
Menor, onde foi arrasada pelos turcos. Somente um reduzido grupo de integrantes
conseguiu juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém aos cruzados.
Durante um mês, mais ou menos, tudo o que os cavaleiros
turcos fizeram foi observar a movimentação dos invasores, que se ocupavam
apenas de saquear as regiões próximas do acampamento onde foram alojados. Até
que, em agosto de 1096, o bando inquieto cansou-se de esperar e partiu para a
ofensiva.
Quando parte dos europeus resolveu partir em direção às
muralhas de Niceia (atual İznik), cidade dominada pelos muçulmanos, uma
primeira patrulha de soldados do sultão turco Kilij Arslan foi enviada, sem
sucesso, para barrá-los. Animado pela primeira vitória, o exército do Eremita
continuou o ataque a Niceia, tomou uma fortaleza da região e comemorou se
embriagando, sem saber que estava caindo numa emboscada. O sultão mandou seus
cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais que levavam água aos invasores.
Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-los e derrotá-los, o que
levou cerca de uma semana.
Quanto ao restante dos cruzados maltrapilhos, foi ainda mais
fácil exterminá-los. Tão logo os francos tentaram uma ofensiva, marchando
lentamente e levantando uma nuvem de poeira, foram recebidos por um ataque de
flechas. A maioria morreu ali mesmo, já que não dispunha de nenhuma proteção.
Os que sobreviveram fugiram em pânico.
O sultão, que havia ouvido histórias temíveis sobre os
francos, respirou aliviado. Mal imaginava ele que aquela era apenas a primeira
invasão e que cavaleiros bem mais preparados ainda estavam por vir.
Primeira Cruzada (1096-1099)
Foi chamada também de Cruzada dos Nobres ou dos Cavaleiros.
Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os
pagãos (leia-se, muçulmanos) em 1095, o papa Urbano II estava a criar um novo
ciclo. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no século IX
se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na
Sicília mereciam a salvação.
As várias versões que nos restam do seu apelo mostram que
Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que
se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si
perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé,
colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem
distinção, pobres ou ricos. E foi, de facto, o que sucedeu. Mas os ricos e
pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
Por volta de 1097, um exército de 30 mil homens, dentre eles
muitos peregrinos, cruzou a Ásia Menor, partindo de Constantinopla. A cruzada
dos cavaleiros, possuindo recursos, embora progredindo devagar, fizera um
acordo com o imperador bizantino de lhe devolver os territórios conquistados
aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer
filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o
mal-entendido entre as duas partes cresceria.
Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente
enquadrados ao qual se pagasse o soldo e que obedecesse às ordens - não aquelas
turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos, depois de tantos
sacrifícios a entregar o que obtinham. Apesar da animosidade entre os líderes e
das promessas quebradas entre os cruzados e os bizantinos que os ajudavam, a
Cruzada prosseguiu. Os turcos estavam simplesmente desorganizados. A cavalaria
pesada e a infantaria francas não tinham experiência em lutar contra a
cavalaria leve e arqueiros turcos, e vice-versa. A resistência e a força dos
cavaleiros venceram a campanha em uma série de vitórias, a maioria muito
difíceis.
Em 19 de junho de 1097, os cruzados cercaram e tomaram
Niceia (atual İznik), devolvendo-a aos bizantinos, e logo tomaram o rumo de
Antioquia. Em julho, foram atacados pelos turcos em Dorileia, mas conseguiram
vencê-los e, após penosa marcha, chegaram aos arredores de Antioquia em 20 de
outubro. A cidade de Antioquia somente cairia, após longo cerco, a 3 de junho
de 1098, com a ajuda de um sentinela armênio que facilitou a entrada dos
cruzados nas muralhas da cidade. Seguiu-se um saque terrível da população
muçulmana da cidade, que ficou na posse de Boemundo de Taranto, o chefe dos
normandos.
Godofredo de Bulhão, após longo cerco, conquistou Jerusalém
atacando uma guarnição fraca em 1099. A repressão foi violenta. Segundo o
arcebispo Guilherme de Tiro, a cidade oferecia tal espetáculo, tal carnificina
de inimigos, tal derramamento de sangue que os próprios vencedores ficaram
impressionados de horror e descontentamento. Godofredo de Bulhão ficou só com o
título de protector e, à sua morte, Balduíno, seu irmão, proclamou-se rei. Os
cristãos humilharam-se após as duas conquistas massacrando muito dos
residentes, indiferentemente da idade, fé ou sexo. Após a vitória, era preciso
organizar a conquista. Surgiram quatro estados cruzados, conhecidos
coletivamente como Outremer ("Ultramar"), do norte para o sul: o
Condado de Edessa, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli, e o Reino
de Jerusalém.
O sucesso da primeira cruzada pelas indisciplinadas tropas
foi até certo ponto uma surpresa e ocorreu porque os cruzados chegaram num
momento de desordem naquela periferia do mundo islâmico. Uma vez conquistado o
território ao inimigo, os cruzados, cujos desentendimentos com os bizantinos
começaram ainda durante a campanha, não mais quiseram devolver as terras aos
seus irmãos de fé cristã do Império Bizantino.
Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada
Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam
a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As
cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados
e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso),
com outras marcas a protegê-los.
O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas
alterações: muitas vezes, em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos
com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa). As cidades
mercantis italianas tornaram-se fundamentais para a sobrevivência desses
estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das
esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo novamente um mar navegável pelos
ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da
vitória, mais voluntários seguiram para o Oriente. Os contingentes seguiam por
nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se
alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia
também aqueles que "apenas" pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de
glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Os governantes cruzados encontravam-se em grande desvantagem
numérica em relação às populações muçulmanas que eles tentavam controlar.
Assim, construíram castelos e contrataram tropas mercenárias para mantê-los sob
controle. A cultura e a religião dos francos era muito estranha para cativar os
residentes da região. Dos seguros castelos, os cruzados interceptavam
cavaleiros árabes.
Por aproximadamente um século, os dois lados mantiveram um
clássico conflito de guerrilha. Os cavaleiros francos eram muito fortes, mas
lentos. Os árabes não aguentavam um ataque da cavalaria pesada, mas podiam
cavalgar em círculo em volta dela, na esperança de incapacitar as unidades dos
francos e fazer emboscadas no deserto. Os reinos cruzados localizavam-se, em
sua maioria, no litoral, pelo qual eles podiam receber suprimentos e reforços,
mas as constantes incursões e o infeliz populacho mostravam que eles não eram
um sucesso econômico.
Por volta do ano 1100, uma nova expedição partiu. Chegados a
Constantinopla, levantaram-se discussões com os bizantinos que estavam fartos
de ter aqueles vizinhos incômodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma
forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além
das diferenças culturais e religiosas).
Entretanto, os turcos estavam a unificar-se para tentar
fazer face a estas ameaça. Evitando combates diretos até ao último momento
contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan,
esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora
abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram
severamente criticados pela fuga, assim como Aleixo, imperador bizantino, por
não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído
de forma similar (com fuga de líderes incluída). A expedição da Aquitânia
portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente
com o povo. Alguns poucos conseguiram fugiram para Constantinopla. Três
exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de
Jerusalém (com o membros da Primeira Cruzada) derrotava um exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os
territórios cristãos no oriente tiveram de se agüentar por conta própria.
Assumiram como padroeiro São Jorge da Capadócia, exemplo de cavaleiro cristão,
e seu brasão de armas, a cruz vermelha num escudo branco.
Entretanto ordens de monges cavaleiros foram formadas para
lutar pelas terras sagradas e cuidar dos peregrinos. Os cavaleiros templários e
hospitaláreis eram, em sua maioria, francos ou seus vassalos. Os cavaleiros
teutônicos (Teutonicorum) eram germânicos. Esses eram os mais organizados,
bravios e determinados do que os cruzados, mas nunca eram suficientes para
fazer a região ficar segura. Os reinos cruzados sobreviveram por um tempo, em
parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os diferentes grupos
árabes uns contra os outros.
O condado de Edessa caiu em 1144, sob Zangi, governante de
Alepo e Mosul. Caíram mais tarde Antioquia em 1268, Trípoli em 1289 e o último
posto dos Cruzados, Acre, durou até 1291.
Segunda Cruzada (1147-1149)
Em 1145, foi pregada uma nova cruzada por Eugénio III e São
Bernardo. A perda do Condado de Edessa provocou a organização dessa cruzada.
Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís VII da França e Conrado III
do Sacro Império, para nomear os mais importantes. Curiosamente, os
contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar Lisboa e voltar para
as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas indulgências para
quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num
momento de repouso. O que sobrou juntou-se aos franceses, com o apoio dos
templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do
exército teve de ser abandonada para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes
tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém, depois de algumas
discussões, acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos
dias tiveram que se retirar perante a ameaça de uma parte dos nobres fazê-lo
por conta própria. O resultado desta cruzada foi miserável (se excetuarmos a
conquista de Lisboa), tendo sucesso apenas em azedar as relações entre os
reinos cruzados, os bizantinos e os governantes muçulmanos amigáveis. Nenhuma
nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém
pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido,
Saladino.
Terceira Cruzada (1189-1192)
A Terceira Cruzada, pregada pelo Papa Gregório VIII após a
tomada de Jerusalém pelo sultão Saladino em 1187, foi denominada Cruzada dos
Reis. É assim denominada pela participação dos três principais soberanos
europeus da época: Filipe Augusto (França), Frederico Barba-Ruiva (Sacro
Império Romano-Germânico) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra).
O imperador Frederico Barba-Ruiva, atendendo os apelos do
papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e tomou o itinerário
danubiano atravessando com sucesso a Ásia Menor, porém afogou-se na Cilícia ao
atravessar o Sélef (atual rio Göksu). A sua morte representou o fim prático
desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra passaram o tempo todo a
querelar-se, até que aquele se retirou.
Se Ricardo Coração de Leão conseguiu alguns atos notáveis (a
conquista de Chipre, Acre, Jaffa e uma série de vitórias contra efetivos
superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres
e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura, combatendo e travando
um subtil táctico. Em 1192, acabou-se por chegar a um acordo: os cristãos
mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de peregrinação, desde
que desarmados, a Jerusalém (que ficava em mãos muçulmanas).
Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados
tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar
num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era dado aos reinos
cruzados no oriente) sobrevivera.
Quarta Cruzada (1202-1204)
A Quarta Cruzada foi denominada também de Cruzada Comercial,
por ter sido desviada de seu intuito original pelo doge (duque) Enrico Dandolo,
de Veneza, que levou os cristãos a saquear Zara e Constantinopla, onde foi
fundado o Reino Latino de Constantinopla, fazendo com que o abismo entre as
igrejas Ocidental e Oriental se estabelecesse definitivamente.
O Papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para
conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da Terceira Cruzada), mas os
preparativos começariam dois anos depois. Vários grandes senhores trouxeram
exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na
sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores
acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor
estipulado (que era fixo).
Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam
Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara, em troca de um
adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias do Império Bizantino. O
Imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Aleixo III e fora cegado. O
filho de Isaac II, de nome Aleixo IV, conseguira fugir e apelara aos cruzados
para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os
recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores
discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que
se iria suceder.
Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia
resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O Papa considerou que se
atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A
cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o Inverno atacaram
Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Aleixo III acabou por fugir com
o tesouro da cidade.
Depois da Quarta Cruzada: Império Latino, Império de Niceia,
Império de Trebizonda e o Despotado do Épiro. As fronteiras são incertas.
Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas
feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Aleixo
V, um parente afastado fez um golpe matando Aleixo IV e colocando novamente na
prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho.
Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o
império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Aleixo fugiu com
algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante três dias.
Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio
foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão
terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser
grega em 1261. E assim terminou a Quarta Cruzada, pois ninguém pensou mais em
dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns
ficaram com feudos no oriente.
Cruzada Albigense
Geralmente é aceito pela maioria dos estudiosos que o
catarismo surgiu em meados de 1143, quando surgiram os primeiros relatos de um
grupo defendendo crenças similares em Colónia pelo clérigo Eberwin de
Steinfeld, o catarismo acreditava no dualismo, professando a existência de um
deus do Bem e outro do Mal, Cristo seria o deus do bem enviado para salvar as
almas humanas, após a morte as almas boas iriam para o céu, enquanto as más
iriam praticar metempsicose. Os cátaros eram especialmente numerosos em
Occitânia (sul da atual França), e sua liderança era protegida por nobres
poderosos,6 e também por alguns bispos, que se ressentiam da autoridade papal
em suas dioceses. Em 1178 Henri de Marcy, legado do papa, qualificou as
populações de implantação cátara com a alcunha em latim de sedes Satanae, sedes
de Satã.
Quando as tentativas diplomáticas do Papa Inocêncio III para
reverter o catarismo falharam , mais proeminentemente o suposto assassinato do
legado papal Pierre de Castelnau, Inocêncio III declarou uma cruzada contra o
Languedoc em 1208. A Inquisição foi criada em 1229 para erradicar os cátaros
remanescentes, operando no sul de Toulouse, Albi, Carcassonne e outras cidades
durante todo o século XIII, e uma grande parte do século XIV. Os cátaros serão
novamente perseguidos nas Inquisições espanholas e portuguesa.
Cruzada das Crianças (1212)
A Cruzada das Crianças, é um misto de fantasia e fatos. A
lenda baseia-se em duas movimentações separadas com origem na França e na
Alemanha, no ano de 1212. Esta cruzada teria ocorrido entre a Terceira e a
Quarta Cruzada e seria um movimento extra-oficial, baseado na crença que apenas
as almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém. A idéia teria
surgido após a notícia de que Constantinopla, uma cidade cristã, tinha sido
saqueada pelos cruzados, fazendo cristãos crerem que não se poderia confiar em
adultos.
50 mil crianças teriam sido colocadas em navios, saindo do
porto de Marselha (França) rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois
a maioria das crianças morreu no caminho, de fome ou de frio. As que
sobreviveram foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da África.
Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles
que foram seqüestrados e escravizados pelos muçulmanos.
Quinta Cruzada (1217-1221)
Também pregada por Inocêncio III, partiu em 1217 e foi
liderada por André II, rei da Hungria, e por Leopoldo VI, duque da Áustria.
Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egito
primeiro, uma vez que este controlava esse território.
Desembarcados em Acre, decidiram atacar Damietta, cidade que
servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena
fortaleza de acesso aguardaram reforços e meteram-se a caminho. Depois de
alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na
liderança egípcia permitiram aos cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão
acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos
retirassem; o cardeal Pelágio, que se tornara num dos chefes da expedição,
acabou por convencer os restantes a recusar.
Começaram a cercar Damietta e depois de algumas batalhas
sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada.
Depois de um longo cerco, que durou de fevereiro a novembro, a cidade caiu. Os
conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os
egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se
numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando-se e levaram os cruzados a uma
armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo:
retiravam-se do Egito e tinham suas vidas salvas.
Sexta Cruzada (1228-1229)
Foi liderada pelo imperador do Sacro Império Frederico II de
Hohenstauffen, que tinha sido excomungado pelo Papa. Ele partiu com um exército
que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs
locais devido à sua excomunhão. Aproveitando-se das discórdias entre os
muçulmanos, Frederico II conseguiu, por intermédio da diplomacia, um tratado
com o sultão aiúbida al-Kamil que lhe concedia a posse de Jerusalém, Belém e
Nazaré por dez anos. Mas a derrota dos cristãos em Gaza fê-los perder os Santos
Lugares em 1244.
Sétima Cruzada (1248-1254)
Foi liderada pelo rei da França Luís IX, posteriormente
canonizado como São Luís. Ele desembarcou diretamente no Egito e, depois de
alguns combates, conquistou Damietta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e
novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem vencido, os cruzados
são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de
uma retirada desastrosa, o exército rendeu-se. Luís IX caiu prisioneiro e os
cristãos tiveram de pagar um pesado resgate pela sua libertação. Somente a
resistência da rainha francesa em Damietta permitiu que se conseguisse negociar
com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de
Outremer (indiretamente, as invasões mongóis deram o seu contributo).
Oitava Cruzada (1270)
O Oriente Médio vivia uma época de anarquia entre as ordens
religiosas que deveriam defendê-lo, bem como entre comerciantes genoveses e
venezianos.
O rei francês Luís IX retomou então o espírito das cruzadas
e lançou novo empreendimento armado, a Oitava Cruzada, em 1270, embora sem
grande percussão na Europa. Os objetivos eram agora diferentes dos projetos
anteriores: geograficamente, o teatro de operações não era o Levante mas antes
Túnis, e o propósito, mais que militar, era a conversão do emir da mesma cidade
norte-africana.
Luís IX partiu inicialmente para o Egito, que estava sendo
devastado pelo sultão Baibars. Dirigiu-se depois para Túnis, na esperança de
converter o emir da cidade e o sultão ao cristianismo. O sultão Maomé recebeu-o
de armas nas mãos. A expedição de São Luís redundou como quase todas as outras
expedições, numa tragédia. Não chegaram sequer a ter oportunidade de combater:
mal desembarcaram as forças francesas em Túnis, logo foram acometidas por uma
peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas entre os cristãos,
nomeadamente São Luís e um dos seus filhos. O outro filho do rei, Filipe, o
Audaz, ainda em 1270, firmou um tratado de paz com o sultão e voltou à Europa.
Chegou a Paris em maio de 1271 e foi coroado rei, em Reims, em agosto do mesmo
ano.
Nona Cruzada (1271-1272)
- A Nona Cruzada é, muitas vezes, considerada como parte da
Oitava.
Em 1268, Baibars, sultão mameluco de Egito, havia reduzido o
Reino Latino de Jerusalém, o mais importante Estado cristão estabelecido pelos
cruzados, a uma pequena faixa de terra entre Sídon e Acre.
Alguns meses após a morte de Luís IX, na Oitava Cruzada, o
príncipe Eduardo da Inglaterra, depois Eduardo I, comandou os seus seguidores
até Acre. Em 1271 e inícios de 1272, conseguiu combater Baibars, após firmar
alianças com alguns governantes da região adversários dele. Em 1272,
estabeleceu contatos para firmar uma trégua, mas Baibars tentou assassiná-lo,
enviando homens que fingiram buscar o batismo como cristãos. Eduardo, então,
começou preparativos para atacar Jerusalém, quando chegaram notícias da morte
de seu pai, Henrique III. Eduardo, como herdeiro ao trono, decidiu retornar à
Inglaterra e assinou um tratado com Baibars, que possibilitou seu retorno e,
assim, terminou a Nona Cruzada.